Luz da Semana - Para nossa reflexão
Não faça da igreja um shopping center
Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus.
“Religião sempre foi um negócio lucrativo”, assim começa a reportagem publicada em 2013 pela Revista de negócios e economia norte-americana Forbes, que costuma divulgar as listas dos maiores milionários do mundo, desta vez anunciando a lista dos pastores mais ricos do Brasil. A lista era encabeçada pelo Bispo Macedo, com uma fortuna estimada em $950 milhões de dólares, depois vem Valdemiro Santiago com $220 milhões de dólares, seguido de perto por Silas Malafaia com $150 milhões, R. R. Soares, com $125 e Estevam e Sonia Hernandes, com $56 milhões.
Essa revista, que não tem nenhuma pretensão teológica, explica que o motivo dessa riqueza é que as igrejas neopentecostais pregam a prosperidade como bênção divina, enquanto as igrejas históricas ainda pregam a salvação em Cristo. O evangelho foi engolido pela “indústria da fé”.
De fato, o comércio no Templo é dos mais lucrativos, e isso não é de agora. Nos tempos de Jesus também foi assim. Sob o argumento de que os animais oferecidos em sacrifício deveriam ser apresentados sem mácula, os funcionários do Templo insistiam para que os peregrinos, que vinham para pagar seus votos e seus tributos, preferissem comprar os animais em Jerusalém mesmo, e não trazê-los pelas escarpadas estradas palestinas, correndo o risco de ferir, sujar, e até perde-los pelo caminho.
O problema é que isso provocava inflação. Uma pombinha, que era a oferta dos mais pobres, ou uma ovelha, e ainda um boi, que era a oferenda dos ricos, chegava a triplicar de preço em Jerusalém, em relação ao praticado nas localidades de origem dos peregrinos.
E tinha mais, em ocasiões como a festa da Páscoa, para a qual vinha grande quantidade de gente, nem que quisessem os sacerdotes não conseguiriam sacrificar todos os animais ofertados. Na verdade, a maioria deles era levado para um lugar reservado e depois retornavam para as bancas dos comerciantes para serem vendidos novamente. Uma mesma ovelha era vendida dezenas de vezes numa semana movimentada. “Negócio da china” é fichinha perto disso.
Outra questão ainda era o dinheiro. No Templo não se aceita qualquer moeda, mas tão somente as consideradas “puras”. Então, os que vinham de lugarejos distantes, tinham que fazer o devido câmbio dos valores destinados às oferendas sagradas. E não é preciso ser muito esperto para saber que rolava um câmbio paralelo muito desvantajoso para o peregrino.
Em suma, Jesus entrou no Templo e não gostou nada do que viu. Indignou-se profundamente. (Há somente dois episódios nos Evangelhos nos quais Jesus “sai da linha”: Quando os seus discípulos começaram a enxotar as crianças que eram trazidas para serem abençoadas, e este, dos cambistas e vendilhões do Templo.)
Que faz Jesus com os que transformam o Templo em mercado, a “casa de oração” em “covil de salteadores” (cf. Mt 21.12-13)? Expulsa a todos a chicotadas! Jesus só saiu vivo dali porque tinha o apoio da multidão.
Conclusão: Templo não é mercado, igreja não é shopping center. Sacerdotes não são mercadores, religiosos não são investidores.
Hoje, compete a nós, se de fato somos discípulos de Cristo, expulsar os comerciantes dos templos, porque transformam o que deveria ser lugar de oração para todos os povos em centro comercial para a exploração dos mais pequeninos da sociedade.
Mas temo que hoje nos falte o apoio da multidão.
E bem que gostaria de convocar a todos para oramos pela igreja, mas também temo que não encontremos na redondeza uma casa de oração.
Reverendo Luiz Carlos Ramos†